sexta-feira, outubro 10, 2008

O DISCURSO E A PRÁTICA

É fácil ter casa em Lisboa. E eu que andei a perder o meu tempo a ver casas e mais casas até encontrar a casa, não a dos meus sonhos, outra qualquer, e depois a contar o dinheiro para ver se chegava para a entrada e a pedir dinheiro emprestado ao banco e a pagar juros insuportáveis, eu que me privei e privo das coisas boas da vida para pagar as mensalidades e afinal bastava que me tivesse dirigido à CML para ter uma casa confortável, a bom preço, numa zona de Lisboa agradável. Mas não seria tão fácil assim, não no meu caso. O meu caso não corresponde aos critérios para a concessão das casas: há que ser escritor, artista, cantor, vereador, prémio nobel, e assumir um discurso de esquerdista, que fica sempre bem em televisão, encontros públicos ou em discursos políticos. Fica sempre bem falar dos pobres e maldizer os ricos. Mas na altura em que se deve responder às necessidades dos pobres, os outros, os que menos precisam, aqueles com discursos politicamente correctos e com práticas incorrectas, são os favorecidos. Claro, que há muitos casos em que isso não acontece, mas quando acontece é triste e vergonhoso.