quinta-feira, setembro 08, 2005

À procura da democracia

A nossa democracia faliu. Não há democracia. O que existe é um número substancial de pessoas a abusar das facilidades do sistema. A classe política é a mais favorecida, e são mais do que muitos. Vivem à conta de um país economicamente arrasado mas não prescindem das suas regalias e estas também são mais do que muitas. Não me falem em serviço público e dedicação à causa porque são pouquíssimos os que se norteiam por estes valores. Porque muitos correm atrás dos seus interesses, do poder, da vaidade, do mérito dos lugares, das mordomias. Para além destes existem cidadãos que tentam sem grande esforço enganar o sistema e lá se vão safando. E existem os que tentam sobreviver, que vivem miseravelmente e que são esquecidos pelo poder político durante o tempo que medeia as eleições. Na altura das eleições são os alvos dos candidatos para ganharem votos. E o que se faz para ganhar votos? Ditam-se promessas desprovidas de seriedade, dão-se beijinhos, espalham-se sorrisos a torto e a direito, dão-se palmadinhas nas costas, dançam juntos o vira, deleitam-se com copos de três nas feiras ou numa tasca de esquina só para não fazer a desfeita ao povo e para parecer que 'somos todos iguais' e todos parecem amigos. É uma alegria para não dizer fantochada. Depois das eleições um ataque de amnésia invade os políticos. A alegria do convívio com o povo desvanece-se e os políticos colocam-se a si próprios num patamar acima do simples mortal. A democracia existe apenas no momento em que votamos. Aí sim podemos escolher e o povo exerce o poder. Mas mesmo assim o poder é limitado porque seja quem for o eleito sabemos de antemão que nada muda. Quer dizer muda um bocadinho mas só ao nível de posições, porque as pessoas são as mesmas, as políticas são as mesmas, apenas os cargos que ocupam são diferentes. As mesmas caras vão rodando nos lugares. Tudo se mantém. Apenas a democracia não fica. Foi-se. Acabou. Foi assassinada de morte lenta.